Evolução vegetal: Flor, a folha que subiu na vida

Fórum abrangente sobre Notícias e Pesquisas não apenas sobre plantas carnívoras.
Responder
Avatar do usuário
MarcielS
Membro ativo (5)
Membro ativo (5)
Mensagens: 8608
Registrado em: 09 Jun 2010, 16:31
Localização: São Paulo - São Paulo
Agradeceu: 1148 vezes
Agradecimentos: 1468 vezes

Evolução vegetal: Flor, a folha que subiu na vida

Mensagem por MarcielS »

A mesma catástrofe que levou os dinossauros à extinção pode ter aberto espaço para que um novo tipo de plantas, as angiospermas dotadas de flores, se espalhassem pelo planeta.

As flores são geralmente bonitas, perfumadas e frágeis. Ninguém pensa nelas como armas de defesa. Mas foi assim que nasceram — provavelmente como um escudo para proteger dos besouros e outros insetos os óvulos das plantas fêmeas.
Embora existissem há milhões de anos, até a época dos dinossauros as plantas não tinham órgãos sexuais bem desenvolvidos. Elas depositavam seus óvulos a céu aberto, nas junções dos galhos com o caule. Então, como a Eva da Bíblia, uma espécie aprendeu a se cobrir com uma folha, que logo se tornou uma das invenções mais felizes da natureza — a flor.

As primitivas flores não se pareciam muito com as de hoje. Lembravam mais um galho comum, sobre o qual se espalhavam as novas partes da planta — aquilo que no futuro seriam pétalas, estames e pistilos. As pétalas, por exemplo, eram soltas, não estavam soldadas entre si, e se dispunham sobre o “galho” geralmente na forma de uma espiral meio tosca. As flores eram bissexuais: tanto tinham ovário, no interior dos pistilos, como estames para gerar pólen, equivalente vegetal do espermatozóide. Ainda hoje se encontram plantas com esses traços primitivos, como a magnólia ou a vitória-régia.

Há inclusive plantas que “regrediram” ao estágio em que não havia flores — como o arroz, a cana e o milho, entre outras. Isso significa, em alguns casos, que a reprodução não é feita por células especializadas — óvulos ou pólen. Qualquer célula pode se tornar reprodutora: corta-se um pedaço da planta, joga-se no chão e ela brota num novo ser. É um sistema prático, certamente, mas o fato é que foi abandonado, há cerca de 130 milhões de anos, por alguns vegetais dotados de flores. E tais plantas se espalharam pelo mundo numa incrível diversidade de tamanhos e formatos.

Veja, por exemplo, a Galinsoga parviflora, uma erva daninha cuja flor não é maior que o grafite de um lápis comum: mede 1 milímetro de comprimento e 0,3 de largura. Em comparação, a flor da Rafflesia arnoldii, chega a ter 1 metro de diâmetro e pesar quase 10 quilos. Também há plantas sempre floridas, enquanto outras demoram quase um século para florir.
Num caso extremo, a palmeira Corypha umbraculifera, natural do Sri Lanka, na Ásia, demora 80 anos. Em compensação sua flor é de fato um cacho de 24 milhões de pequenas flores.

Distribuídas em hastes, no topo da árvore de 25 metros de altura, elas são tão numerosas quanto especiais, já que permitem à planta fecundar-se a si mesma. Ou seja, a palmeira asiática é hermafrodita. Caso contrário, seria difícil para a espécie sobreviver: com tanta demora para florir, seria muita sorte duas plantas férteis, de sexo oposto, florescerem na mesma época e região. Imagine-se, então, o susto dos moradores de Nova Europa, no interior de São Paulo, quando viram uma Corypha precoce, de apenas 62 anos, lançar botões em dezembro passado. Há mais de 60 anos, os proprietários da Usina Santa Fé, em Nova Europa, mantêm uma coleção de quase 1000 palmeiras, entre elas alguns pés da Corypha, conta José Carlos Magalhães, caseiro da usina que toma conta da coleção.

“Comecei a perceber algo estranho na árvore no início de dezembro, mas somente 10 dias depois tive a certeza de que eram as flores, e espalhei a notícia pela fazenda.” A floração adiantou-se, provavelmente, porque em 1967 a palmeira foi atingida por forte geada, e a dose extra de adubo que recebeu (como “remédio”) pode ter acelerado seu ritmo vital. Em pouco mais de um ano, com a chegada dos frutos, a planta começará a morrer. “O metabolismo normal simplesmente cessa”, explica o botânico Hermógenes de Freitas, do Parque Ecológico da Universidade Estadual de Campinas.

Das mais estranhas às mais simples, as flores são uma invenção da natureza da qual o homem faz bom proveito. Em 1992, o Brasil lucrou 12 milhões e meio de dólares com sua exportação — crisântemos e rosas em primeiro lugar.
E isso é pouco. A Holanda exporta 1 bilhão de dólares e a Colômbia 250 milhões por ano. A produção interna no Brasil chega a render 200 milhões de dólares por ano e, só em São Paulo, a floricultura ocupa mais de 10 mil hectares de terra cultivada. Esse número representa produtos para ornamentação, mas as flores têm outras serventias.

É verdade que, como alimento, elas são importantes apenas para os insetos, que consomem seu néctar e pólen. “É preciso inclusive cuidado,” diz o botânico Carlos Eduardo Ferreira de Castro, chefe da Divisão de Horticultura do Instituto Agronômico de Campinas. “Existe risco de alguém ingerir espécies tóxicas.” Seja como for, usam-se flores para fazer licor (de rosa, por exemplo); geléias, (azaléia); perfumes (rosa e violeta); estimulantes medicinais (papoula e datura, arbusto comum no México); e até inseticidas, à base da droga piretróide.

Como sempre, a economia estimula a ciência, já que os segredos da evolução podem conduzir a novas tecnologias para a produção de flores. Infelizmente ainda se sabe muito pouco sobre o aparecimento das angiospermas — os vegetais que inventaram a flor.
Não é tarefa fácil reconstruir a evolução quando a matéria-prima dos fósseis é algo tão frágil. Uma das mais importantes e curiosas descobertas recentes parece ligar a ascensão das flores ao desaparecimento dos dinossauros. Esses fósseis, de fato, têm 72 milhões de anos, e portanto são da época em que desapareceram os dinossauros e grande parte dos seres vivos existentes na Terra. Além disso, menos de 15% das plantas encontradas tinham flor, o que parece pouco. Afinal, as flores já existiam há 60 milhões de anos. A idéia, então, é que em todo esse tempo as angiospermas eram minoritárias.
E só puderam se expandir porque enfrentaram o desastre ecológico com mais aptidão que os vegetais mais antigos, destituídos de flores.

Essa, pelo menos, é a hipótese levantada pelo pesquisador americano Scott Wing, do Museu Smithsonian de História Natural. Foi ele quem descobriu os fósseis, há cerca de dois anos, em Wyoming, nos Estados Unidos: eles estavam em bom estado porque ficaram preservados nas cinzas de um vulcão. Ainda é preciso verificar se a pequena porcentagem de angiospermas se repete em outras regiões do planeta. Mas, se ela ficar comprovada, a flor pode ter sido o artifício responsável pela sobrevivência das angiospermas. Embora plausível, é claro que essa conclusão não explica como as flores surgiram, em primeiro lugar.

Fósseis mais antigos mostram que a maior parte das plantas era polinizada pelo vento, que carregava os grãos de uma flor para outra. Outras, contudo, recebiam a visita de insetos oportunistas, provavelmente besouros — que carregavam os grãos de pólen de uma flor para outra, facilitando a fecundação. Só que o trabalho não era gratuito e o inseto comia parte do óvulo da planta. Para agasalhar seu órgão reprodutor, a planta envolveu-o com uma folha especializada que ficava ao seu redor e já tinha a função de reprodução. Ela se fechou até recobrir completamente o óvulo, desenvolvendo contudo uma superfície para receber o pólen — o estigma. Essa estrutura foi evoluindo até ficar semelhante a uma garrafa, dentro da qual estão os óvulos, formando o aparelho feminino de reprodução.

Para confirmar a teoria, foram encontrados na Suécia fósseis de plantas bem preservados, com mais de 105 milhões de anos, cujo pólen tinha uma fina cobertura viscosa, típica de vegetais polinizados por insetos. Esses mesmos insetos que a princípio ofereciam perigo à planta tornaram-se quase imprescidíveis à fecundação e, com o tempo, teria surgido um jogo curioso. Os vegetais se precaviam contra os predadores, mas também procuravam atraí-los. Assim, colocaram os grãos de pólen em um local mais acessível, criando os estames, astes que produzem e abrigam os grãos na sua ponta. As pétalas, armadas de cor e perfume, atraíam e ao mesmo tempo serviam como campo de pouso para os insetos.

Resta ainda outra dúvida: qual das centenas de grupos de plantas existentes teria sido brindada com a flor. Catarino imagina que as flores apareceram em regiões tropicais. “É onde a presença de insetos é mais freqüente, favorecendo a polinização por esses agentes.” Um bom palpite. O que se sabe é que, bem antes disso, há cerca de 130 milhões de anos, havia muitos grupos de plantas, especialmente as primitivas gimnospermas.

Ainda presentes no planeta, estas últimas podem ter perdido parte de seus antigos membros — que se transformaram em angiospermas. Elaborada no início do século, pelo botânico russo Armen Takhtajan, essa ainda é a teoria dominante sobre o fim de um mundo comparativamente insípido e descolorido. Nos próximos anos, com o acúmulo recente de dados precisos, ela talvez ajude a pintar um panorama vivo, mais detalhado sobre o inimaginável mundo sem flores do passado.

A mais idosa do Brasil
Em 1961, alunos da Escola Nacional de Geologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, numa excursão para coletar fósseis na Bacia de Fonseca, município de Alvinópolis, MG, encontraram algo parecido com uma flor. Era mesmo, mas o exemplar vivera cerca de 35 milhões de anos atrás, e a espécie a que pertencia já não existe mais. São palavras da paleobotânica Lélia Duarte, do Departamento Nacional da Produção Mineral, hoje na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Única especialista brasileira em vegetais do período Mesozóico (que transcorreu há cerca de 300 milhões de anos), Lélia concluiu depois de longo estudo que a planta era parente das paineiras, da família Bombacaceae. Estas habitam regiões tropicais e apresentam flores pequenas — a que foi encontrada, único fóssil de flor já descrito no Brasil, media apenas 3,6 centímetros.

ref: superinteressante, por Ivonete D. Lucírio


Avatar do usuário
WFERnando
Membro ativo (5)
Membro ativo (5)
Mensagens: 1757
Registrado em: 13 Dez 2011, 19:34
Localização: Barueri - SP
Agradeceu: 25 vezes
Agradecimentos: 94 vezes

Mensagem por WFERnando »

Muito bom o artigo!
E acho que nesse meio todo, as nossas "pitchulas" devem ter surgido!


E se existe algum tipo de Deus, você acha que ele está satisfeito?
Avatar do usuário
teus-42
Membro ativo (3)
Membro ativo (3)
Mensagens: 203
Registrado em: 25 Out 2011, 15:01
Localização: Guará II -DF
Agradeceu: 6 vezes
Agradecimentos: 3 vezes

Mensagem por teus-42 »

Muito interessante, mas o que será que as plantas poderiam fazer, para serem suspeitas de tal crime (extinguir os dinossauros)! "Uma das mais importantes e curiosas descobertas recentes parece ligar a ascensão das flores ao desaparecimento dos dinossauros." :o


Se bem que as plantas podiam invadir o mundo...

Sempre Alerta
g_Ribeiro
Membro ativo (4)
Membro ativo (4)
Mensagens: 599
Registrado em: 28 Ago 2011, 21:55
Localização: Rio de Janeiro - RJ
Agradecimentos: 3 vezes

Mensagem por g_Ribeiro »

Marciel, excelente material, como sempre!
Acho super interessante seu tópico, obrigado por dividir com a gnt aqui do fórum!


Junto com o esforço e a dedicação, vem a experiência. Ninguém ganha experiência, sem esforço.
Minha [url=http://www.carnivoras.com.br/galeria-gabriel-ribeiro-att-30-05-t2403.html]Galeria[/url]
raphapricci
Membro ativo (4)
Membro ativo (4)
Mensagens: 491
Registrado em: 08 Jan 2012, 23:43
Localização: Campinas - SP
Agradecimentos: 2 vezes
Contato:

Mensagem por raphapricci »

Muito bacana esse artigo. : joia :
É incrível ver o Brasil com todo esse tamanho e ter encontrado apenas um fóssil de planta. Deve ter muita coisa ainda. Não sei como são as pesquisas nessa área mais acho que deve estar faltando profissional que se detenha nesse tipo de pesquisa em específico.
Pelo menos na área que eu atuo da pra perceber que em algumas áreas falta profissionais especializados. Por exemplo Ecologia Química voltada para Insetos. Minha orientadora é praticamente a única que trabalha no Brasil com esse tipo de pesquisa (Biosíntese, comunicação química, etc.).

Sds


Raphael Pedro Ricci
Galeria de Fotos
[url=http://www.carnivoras.com.br/raphael-growlist-wishlist-t2181.html]Growlist/Wishlist[/url]

[hr]"Ela acreditava em anjo e, porque acreditava, eles existiam."
(A Hora da Estrela) Lispector, C.
Responder
  • Tópicos Semelhantes
    Respostas
    Exibições
    Última mensagem