
De uns tempos para cá tenho me dedicado bastante a este tema, não como produtor, mas como cultivador. Adquiri algumas mudas produzidas através de cultura de tecidos e enfrentei muita dificuldade até conseguir fazer com que as primeiras plantas sobrevivessem ao processo de “transferência da cultura” ou “desmame”, que será o foco desse tópico que resolvi escrever.
Não pretendo explorar aqui os métodos para desenvolver a cultura de tecido, mas apenas os pontos necessários para que a última fase de transição da planta do vidro para o substrato comum seja bem sucedida.
O texto foi baseado em outro, editado e complementado com algumas observações minhas, mas, o original pode ser encontrado em:
http://www.sarracenia.com/faq/faq6010i.html
Cultura de tecidos é um termo com um número de definições que varia de acordo com o autor ou cultivador, mas, basicamente pode ser definida como: propagação e multiplicação de células vegetais em condições artificiais e estéreis (ou quase estéreis). As "condições artificiais" geralmente significam em vidro selado ou recipientes de plástico, através de agar com determinados produtos químicos, em vez de o substrato tradicional composto basicamente por sphagnum, turfa, areia, etc...
A transferência:
Ao adquirir um exemplar proveniente de cultura de tecido, este deverá ser recebido envolto no meio de cultura (geralmente agar) em um frasco esterilizado, tampado e selado.
A tampa pode ser vedada com uma fita de cera chamada “parafilm”, enquanto outros simplesmente podem usar uma fita transparente convencional. A fita ajuda a manter a cultura estéril, e também reduz a perda de água.
O açúcar no meio de cultura provê as necessidades de energia das plantas, assim elas não precisam realizar a fotossíntese. Ao expô-las à luz, esta irá incentivar a produção de estruturas de planta normal.
A grande dificuldade está em, depois de receber os espécimes, conseguir mantê-los vivos. A transferência deve ser feita com cuidado, ou então as plantas vão morrer, e se for feita incorretamente, as plantas morrerão em poucas horas. Erros no processo de transferência podem resultar na morte instantânea.
Muitos daqueles que não estão familiarizados com as técnicas de cultura de tecidos ficam receosos com a compra de plantas neste meio de propagação, mas, com as devidas precauções, é um processo simples. O segredo é não chocar as plantas.
Ao adquirir plantas de um fornecedor de cultura de tecidos e decidir que a transferência é necessária, atente para os seguintes pontos:
Neste momento é importante lembrar-se que o objetivo é transferir a planta, e somente isso. Leaf cuttings, divisões de rizoma e outros procedimentos do tipo, neste momento, somente debilitarão ainda mais a planta e reduzirão drasticamente as chances de sucesso.
Dependendo do clima de sua região, luminosidade, estado de saúde da cultura, dentre outros fatores, é normal acontecer de os tecidos começarem a murchar dentro de poucos minutos, então, prepare tudo o que for precisar antes de abrir o frasco de cultura de tecidos:
Com o ambiente preparado, remova a tampa do frasco, retire cuidadosamente a planta e mergulhe-a em água destilada levemente aquecida (de morna para fria, entre 30 e 40 graus, no máximo). Retire todo o agar cuidadosamente com a ajuda de um algodão embebecido com a água destilada ou com um pincel macio. Muito cuidado para não danificar a planta ou as raízes nesse processo. É importante que a planta fique o tempo todo em contato com a água.
Retirado o agar, leve a planta até o vaso onde será plantada, cuidadosamente cubra as raízes com o sphagnum já bem úmido e coloque o vaso em um recipiente com água destilada até o nível do substrato, de forma que este fique praticamente encharcado. Lembre-se que a umidade é muito importante para a planta recém-transferida.
Neste momento costumo aplicar algumas vitaminas na água em que a planta está “de molho”. Uso superthrive ou simplesmente vitamina B1 para estimular o desenvolvimento das raízes. Compostos enraizadores de ácido indolbutírico (AIB) também se mostraram muito eficientes nesta etapa do processo, mas, tive melhores resultados usando apenas superthrive (8 gotas para meio-litro de água) e também acho mais simples de manipular.
Prosseguindo, recomendo também a aplicação de um fungicida logo após a transferência. Costumo usar o captan, na diluição de 0,5g para 250ml de água destilada. Duas borrifadas e não tive problemas com fungos. Nas culturas em que não apliquei fungicida, quatro dias depois, em 2/3 dos casos, apareceram os primeiros fungos.
Executados estes passos, proteja a planta de luz e choques de temperatura. Uma pequena caixa de isopor com a tampa fechada e longe do sol mostrou-se a solução ideal para mim. Deixe uma pequena abertura de 1cm na tampa para o ar circular ou, se preferir, deixe a tampa fechada e uma vez por dia abra a caixa.
Caso o clima esteja seco ou muito calor, recomendo que, pelo menos uma vez por dia, na primeira semana, a planta seja vaporizada com um borrifador contendo água destilada. Isso ajuda muito a evitar a desidratação das folhas.
Com paciência e cuidado, num intervalo de uma a duas semanas a planta começará a “endurecer” e você poderá, aos poucos, aclimatá-la às condições de uma planta normal, adaptando-a gradativamente ao sol e à luz, e sempre monitorando a reação. Caso perceba que a planta murchou ou sentiu a mudança, volte um passo no processo e aguarde até que ela se recupere para avançar.
Feito isso, você terá uma nova planta em sua coleção! Com a prática, a sorte vai se tornar um ingrediente menos crucial para o processo e tudo ocorrerá sem “surpresas”.
Vale lembrar que, apesar de relativamente simples, a transferência de culturas de tecido é um processo delicado, então, é necessário desenvolver certa resistência a frustrações, especialmente quando se lida com amostras difíceis e de pequeno porte.
É claro, e não posso deixar de mencionar que você deve proceder com cuidado em todas as fases, especialmente porque pode estar trabalhando com chamas, álcool concentrado, lâminas afiadas e soluções tóxicas. Esses ingredientes podem ser combinados de várias maneiras que resultariam em um passeio na sala de emergência do hospital mais próximo. Queimaduras químicas, lacerações e intoxicações nunca são agradáveis de se lidar, então, muita atenção e cuidado, sempre!
Abraços a todos! Não pretendo explorar aqui os métodos para desenvolver a cultura de tecido, mas apenas os pontos necessários para que a última fase de transição da planta do vidro para o substrato comum seja bem sucedida.
O texto foi baseado em outro, editado e complementado com algumas observações minhas, mas, o original pode ser encontrado em:
http://www.sarracenia.com/faq/faq6010i.html
Cultura de tecidos em plantas carnívoras
Definição:Cultura de tecidos é um termo com um número de definições que varia de acordo com o autor ou cultivador, mas, basicamente pode ser definida como: propagação e multiplicação de células vegetais em condições artificiais e estéreis (ou quase estéreis). As "condições artificiais" geralmente significam em vidro selado ou recipientes de plástico, através de agar com determinados produtos químicos, em vez de o substrato tradicional composto basicamente por sphagnum, turfa, areia, etc...
A transferência:
Ao adquirir um exemplar proveniente de cultura de tecido, este deverá ser recebido envolto no meio de cultura (geralmente agar) em um frasco esterilizado, tampado e selado.
A tampa pode ser vedada com uma fita de cera chamada “parafilm”, enquanto outros simplesmente podem usar uma fita transparente convencional. A fita ajuda a manter a cultura estéril, e também reduz a perda de água.
O açúcar no meio de cultura provê as necessidades de energia das plantas, assim elas não precisam realizar a fotossíntese. Ao expô-las à luz, esta irá incentivar a produção de estruturas de planta normal.
A grande dificuldade está em, depois de receber os espécimes, conseguir mantê-los vivos. A transferência deve ser feita com cuidado, ou então as plantas vão morrer, e se for feita incorretamente, as plantas morrerão em poucas horas. Erros no processo de transferência podem resultar na morte instantânea.
Muitos daqueles que não estão familiarizados com as técnicas de cultura de tecidos ficam receosos com a compra de plantas neste meio de propagação, mas, com as devidas precauções, é um processo simples. O segredo é não chocar as plantas.

Ao adquirir plantas de um fornecedor de cultura de tecidos e decidir que a transferência é necessária, atente para os seguintes pontos:
- Observe se não há contaminação bacteriana ou fúngica: Contaminação é fácil de ver. Procure algum tipo de mancha cinza ou branca na planta, no meio ou no próprio tubo. Em caso de fungos, a aplicação de um fungicida provavelmente resolverá a contaminação. Caso o fungicida não seja aplicado, certamente a planta não sobreviverá.
- Veja se a planta já possui um sistema radicular formado: É comum receber plantas que ainda não formaram suas raízes, neste caso, aconselho a deixar planta no tubo e esperar até que alguma raiz se forme. Raízes ajudam a melhorar a taxa de sobrevivência durante o processo de transferência. Lembre-se de assegurar que não haja fungos no tubo, do contrário a planta deverá ser imediatamente removida e transplantada.
Neste momento é importante lembrar-se que o objetivo é transferir a planta, e somente isso. Leaf cuttings, divisões de rizoma e outros procedimentos do tipo, neste momento, somente debilitarão ainda mais a planta e reduzirão drasticamente as chances de sucesso.
Dependendo do clima de sua região, luminosidade, estado de saúde da cultura, dentre outros fatores, é normal acontecer de os tecidos começarem a murchar dentro de poucos minutos, então, prepare tudo o que for precisar antes de abrir o frasco de cultura de tecidos:
- Vaso em que a planta será colocada (preferencialmente com sphagnum 100%, se possível, com uma camada de sphagnum vivo na superfície do substrato).
- Água destilada
- Utensílios para manipular a planta e os produtos químicos que venha a utilizar, tais como: pote plástico, luvas, máscara, óculos de proteção, pincéis, algodão, pinças, etc...
- Vitaminas, antibióticos ou hormônios que porventura venha a utilizar.
Com o ambiente preparado, remova a tampa do frasco, retire cuidadosamente a planta e mergulhe-a em água destilada levemente aquecida (de morna para fria, entre 30 e 40 graus, no máximo). Retire todo o agar cuidadosamente com a ajuda de um algodão embebecido com a água destilada ou com um pincel macio. Muito cuidado para não danificar a planta ou as raízes nesse processo. É importante que a planta fique o tempo todo em contato com a água.
Retirado o agar, leve a planta até o vaso onde será plantada, cuidadosamente cubra as raízes com o sphagnum já bem úmido e coloque o vaso em um recipiente com água destilada até o nível do substrato, de forma que este fique praticamente encharcado. Lembre-se que a umidade é muito importante para a planta recém-transferida.
Neste momento costumo aplicar algumas vitaminas na água em que a planta está “de molho”. Uso superthrive ou simplesmente vitamina B1 para estimular o desenvolvimento das raízes. Compostos enraizadores de ácido indolbutírico (AIB) também se mostraram muito eficientes nesta etapa do processo, mas, tive melhores resultados usando apenas superthrive (8 gotas para meio-litro de água) e também acho mais simples de manipular.
Prosseguindo, recomendo também a aplicação de um fungicida logo após a transferência. Costumo usar o captan, na diluição de 0,5g para 250ml de água destilada. Duas borrifadas e não tive problemas com fungos. Nas culturas em que não apliquei fungicida, quatro dias depois, em 2/3 dos casos, apareceram os primeiros fungos.
Executados estes passos, proteja a planta de luz e choques de temperatura. Uma pequena caixa de isopor com a tampa fechada e longe do sol mostrou-se a solução ideal para mim. Deixe uma pequena abertura de 1cm na tampa para o ar circular ou, se preferir, deixe a tampa fechada e uma vez por dia abra a caixa.
Caso o clima esteja seco ou muito calor, recomendo que, pelo menos uma vez por dia, na primeira semana, a planta seja vaporizada com um borrifador contendo água destilada. Isso ajuda muito a evitar a desidratação das folhas.
Com paciência e cuidado, num intervalo de uma a duas semanas a planta começará a “endurecer” e você poderá, aos poucos, aclimatá-la às condições de uma planta normal, adaptando-a gradativamente ao sol e à luz, e sempre monitorando a reação. Caso perceba que a planta murchou ou sentiu a mudança, volte um passo no processo e aguarde até que ela se recupere para avançar.
Feito isso, você terá uma nova planta em sua coleção! Com a prática, a sorte vai se tornar um ingrediente menos crucial para o processo e tudo ocorrerá sem “surpresas”.
Vale lembrar que, apesar de relativamente simples, a transferência de culturas de tecido é um processo delicado, então, é necessário desenvolver certa resistência a frustrações, especialmente quando se lida com amostras difíceis e de pequeno porte.
É claro, e não posso deixar de mencionar que você deve proceder com cuidado em todas as fases, especialmente porque pode estar trabalhando com chamas, álcool concentrado, lâminas afiadas e soluções tóxicas. Esses ingredientes podem ser combinados de várias maneiras que resultariam em um passeio na sala de emergência do hospital mais próximo. Queimaduras químicas, lacerações e intoxicações nunca são agradáveis de se lidar, então, muita atenção e cuidado, sempre!


FT